Atrasados (Parte II)

Fonte: Google






Quem nunca chegou atrasado? Tem aquele dia em que por mais que você acorde e saia de casa cedo, corra para chegar no horário, ainda assim chegará atrasado. Alguns acreditam que chegar atrasado pode ser coisa do Divino: “quem sabe ter chegado tarde não foi melhor assim...”.

Chegar atrasado ao trabalho, na festa, na manicure ou em algum outro tipo de compromisso. Para cada situação há uma sensação. Na festa você certamente vai causar curiosidade aos olhos daqueles que se anteciparam, em um show ou em um filme vai ser constrangedor - já imaginou ter que discutir com alguém que sentou em sua poltrona, pois era o melhor lugar e porque tudo indicava que você não iria ao show? -, no trabalho o dia se resumiria em tumultuo ou pior do que isso se você tiver um gestor controlador.

E nas relações, você já se sentiu “atrasado”? Há dias em que você constata que muitos se encaixam, no entanto você não faz parte desse grande quebra-cabeça. Como se tivesse chegado atrasado, como se não existisse alguma companhia que se recordasse ou sentisse falta de sua presença para uma volta ali na esquina, para jogar conversa fora, para não fazer nada em especial ou para um grande projeto.

O mundo lá fora está todo formado, parcerias estabelecidas e você simplesmente chegou atrasado! Não há mais ninguém para formar irmandade com você, para te dizer: “vamos nessa?!”. Coincidentemente estava uma tarde dessas à procura de um filme e me deparei com um desses típicos da “sessão da tarde”, mas com um fundo complexo.

O filme contava a história de um garoto que não tinha amigos. Na verdade ele tinha, mas seu amigo inseparável havia optado por ceifar sua vida sem deixar razão ou algo que o garoto pudesse ajudar ou compreender a respeito da escolha dele. Eis que no ano seguinte sua vida se transforma de alguma forma quando conhece outro garoto e uma menina e, através dessas pessoas, conhece mais outras e começa a fazer parte daquela turma de indivíduos divertidos, distintos e interessantes.

Uma cena roubou minha atenção. Depois de uma festa, os dois garotos e a menina voltam para casa de carro, na estrada, ouvindo canções; começa a tocar em uma fita cassete a música “Heroes” na voz de David Bowie. A garota elogia o gosto musical do até então rapaz solitário citado acima, na estrada, os três ultrapassam um túnel com paredes cobertas por um material que lembra azulejo; a garota se levanta, coloca a cabeça para fora do teto solar e abre os braços diante do vento gerado com o movimento da caminhonete que percorre a autoestrada. Naquele instante o menino solitário olha sorrindo para seu novo amigo e diz: “Eu me sinto infinito”.

Talvez seja exatamente assim como no filme, somos infinitos ao lado daqueles que nos tocam pela vida a fora. Até para quem chega atrasado ou por último deve restar uma ponta de algo para fazer parte ou ser chamado para grande festa que é compartilhar. Pessoas seguem sendo elementos transformadores uma na vida da outra, poetas e pensadores já nos explicaram – ou tentaram explicar - as razões pelas quais todo aquele que cruzar nosso caminho conte tanto para nossa existência e faça tanta diferença (positiva ou negativamente). A dúvida que fica é se a gente realmente faça alguma diferença (positiva).

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