Autorretrato

Fonte: Google


A janela de um ônibus é perigosa para quem se perde em pensamentos. Certo dia ao encarar a hora do rush, sem qualquer sombra de sono – às vezes o embalo de um ônibus é convidativo para um apagar ou outro de consciência – fiquei pensando algo sobre mim.

Sobre linguagens na escrita, o poeta costuma ser aquele que fala de sua dor, de seus medos, de seus prazeres ou qualquer outro motivo, como se não fosse ele quem estivesse vivenciando aquelas sensações - e nem sempre é - ele se torna a voz de outros indivíduos, de alguma maneira traduz em palavras para que alguns seres, que nunca cruzaram seu caminho, possam vivenciar dos mesmos sentimentos.

Assim, nesses devaneios, de um quarteirão a outro vi mulheres elegantes, com seus casacos de lã três-quartos, suas jaquetas de couro, suas roupas de causar inveja a qualquer ser da mesma espécie, suas unhas pintadas e brilhantes como se acabassem de sair de uma manicure, com seus cabelos escovados e esvoaçantes, com suas bolsas e sapatos deslumbrantes. 

Aquela imagem me levou a um pensamento: Não sou nenhuma delas! Verdade, não sou cheia de charme, não sou diva, não tenho esse traquejo, sou mulher comum. Sou mortal, “sujeitinha” simples de uma oração sem complemento nominal, daquelas que você vê por aí andando algumas vezes cabisbaixa ou com a cabeça na lua. Se tiver brilho, acredito que ele se esconda das sete da manhã até o final do dia, talvez não tenha a mesma vivacidade dos finais de semana. 

Ainda assim, admiro todas essas mulheres que não sou; que não fui e não vou. Elas se destacam na multidão, são belíssimas e musas de um Olimpo que nunca pertenci. O penar não existe, pois há muita mulher comum por aí, sem que jamais se pronunciem! Assim, ser comum não de todo ruim, você descobre que enquanto é comum você desfruta do ato de observar as pessoas e o movimento a sua volta, você ri de si mesma, e não tem obrigação de ser magnífica o tempo todo.

Ser comum não é ser feia ou qualquer outro adjetivo pejorativo, por favor, não disse isso! Há de ter o dia em que até mesmo uma diva já foi comum! No final somos todos comuns: quando nos sentimos sós; quando nos enganamos; quando descobrimos que sentimentos recíprocos não caminham exatamente da maneira que criamos em nossas fantasias. 

Somos todos comuns quando estamos em uma cama ou na fila de um hospital, quando somos apenas mais um número no local de trabalho, quando somos esquecidos, quando não temos emprego, quando passamos por dificuldades...infinidade de motivos para vermos que somos todos comuns.

Somos comuns, mas há quem diga que algo sempre nos definirá ou saltará aos olhos daqueles que enxergam além de qualquer aparência exterior. É bonito sim ver todas essas mulheres com seu poder de elegância, afinal o dom que você tem deve ser utilizado! Entretanto, em certos dias as mulheres comuns, também, têm seu dia de glamour, esbanjam sua elegância, por isso ao final de tudo somos todas iguais, somos seres humanos, somos mulheres.

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